Educação não é para se debater no critério politiqueiro, mas sim educacional em sua essência.

Publicado em   27/nov/2012
por  Caio Hostilio

Diante das baboseiras que escutei sobre o resultado do Enem 2011 nas mais diversas esferas da sociedade maranhense, sem que mensurassem os indicadores e o objetivo do Enem, principalmente no debate politiqueiro de ontem (26) na Assembléia Legislativa, que esquece que a Educação é uma linha reta e que cada etapa é o reflexo da anterior, resolvi publicar essa avaliação G1, que foi feita dentro dos princípios educacionais por quem conhece educação de fato.

Para educadores, ranking do Enem não avalia qualidade da escola

Especialistas afirmam que notas médias ‘apagam diferenças sociais’. Sistemas não pontuais que avaliam a evolução do aluno são mais precisos.

O resultado de determinada escola no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não deve ser o único critério para que pais decidam matricular seus filhos nela, afirmam especialistas em educação ouvidos pelo G1. De acordo com os educadores, a comparação entre escolas não dá pistas sobre a qualidade do ensino, e o uso do Enem como “vestibular” não mede os desafios que o estudante enfrenta no aprendizado durante o ensino médio.

Ocimar Munhoz Alavarse, professor de avaliação e política educacional Faculdade de Educação da USP, diz que “o Enem a cada ano mais está se transformando num grande vestibular” e, por isso, “derivar a qualidade da escola [a partir do ranking do Enem] é questionável”. De acordo com ele, o ranking só tem utilidade para “os pais são aqueles que acham que passar no vestibular é a melhor característica da escola”.  Alavarse explica que a prova mede habilidades específicas de cada aluno individualmente e, por isso, não pode ser considerado o único indicador de qualidade “se você levar em conta série de desafios colocados no ensino médio”. 

O uso mercadológico desse ranking pelas escolas, segundo o professor da USP, apela para o tipo de público que dá muito valor ao ingresso à universidade e ao posicionamento “do aluno no processo de disputa”.

A lista, porém, não abrange a realidade das escolas. “Hoje a imensa maioria das escolas não tem condições de organizar seu currículo em função do que o Enem cobra.” Alavarse diz que, para avaliar as escolas, prefere os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), exame aplicado a cada dois anos por amostragem de alunos.

Para a coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, Maria Márcia Sigrist Malavasi, o Enem não é um sistema de avaliação.

De acordo com ela, “só se pode avaliar de fato a qualidade da escola se for feito acompanhamento dos alunos que estão lá, mais de um exame daquele mesmo aluno para ver quanto de melhoria a escola o ajudou a ter”.

A coordenadora de psicopedagogia da PUC de São Paulo, Neide Noffes, afirma que “a competição e a comparação [entre escolas] não dá pistas”, porque só mostra as notas, mas “não elenca os atributos dessas escolas”. Escolher a escola ideal para os filhos, segundo ela, é uma tarefa que precisa levar em conta outros critérios.

“Nenhum pai quer o filho na pior escola, mas, normalmente, a escola boa também é uma escola média. Ela tem que ter um bom perfil, mas não precisa ser o topo de linha, senão vira muita competição”, diz.

Pública versus privada

A inclusão das escolas privadas e públicas em uma mesma lista é considerada arriscada para avaliar efetivamente cada colégio, segundo os educadores. “Não se pode comparar escolas com situação muito diferente de nível sócio-econômico, porque você pode cometer enormes injustiças à escola que tem seus alunos ingressantes com muito mais dificuldades que outros”, diz Maria Márcia.

Ela acredita ainda que a divulgação das escolas por média final acaba mascarando detalhes sobre a evolução dos alunos. “Achamos ingenuamente que a escola particular faz mais [pelo aluno]”, já que “alguma escola que, aparentemente, tem classificação menor, pode ter avançado muito mais com os estudantes porque os recebeu com grau de conhecimento muito pequeno, do que uma escola que já recebeu alunos em outro patamar e agregou muito pouco a eles”, diz ela.

Alavarse, da USP, também afirma que não se pode comparar escolas públicas e privadas como se elas estivessem “na mesma magnitude” porque isso “apaga as diferenças sociais”. De acordo com ele, cerca de 90% dos estudantes brasileiros frequentam escolas públicas. “Dentro desses 90%, há escolas em situações muito precárias”, explica ele.
O professor destaca ainda que mais da metade dos alunos do terceiro ano do ensino da rede pública estudam no período noturno, que “em geral tem funcionamento ainda mais precário”.
Enquanto Alavarse diz que o resultado não apresentou novidades, a professora da Unicamp, porém, acredita que o ranking do Enem, da forma como foi divulgado, “reflete o quadro social” do Brasil. A solução, segundo ela, é “investir muito mais na escola pública, para tentar diminuir o efeito perverso do nível sócio-econômico dos estudantes que ingressam nela”.

  Publicado em: Governo

4 comentários para Educação não é para se debater no critério politiqueiro, mas sim educacional em sua essência.

  1. raposo disse:

    Independente do mérito classificatório ou não do ENEM, já que ficamos quase em último lugar tanto nas escolas privadas quanto nas estaduais e federais, é hora de avaliar os docentes, haja vista os mesmos ensinarem nas redes de ensino devido à esta facilidade de jornada dupla e até tripla. Avaliar os PQDs e PROCAD da vida, assim como as faculdades de fundo de quintal que se espalham feito praga pelo estado. Qualquer faculdadezinha pé-de-chinelo que abre, tem logo um curso de pedagogia e/ou teologia. E todos habilitam a dar aula. Educação é sério demais. Ficou burro na fase de crescimento, dificilmente este quadro mudará. E o brasil continuará com uma mão-de-obra cara e de mal qualificada.

    • Caio Hostilio disse:

      Esse é um dos problemas, mas o próprio Enem tem uma fórmula diferente de avaliação, que não condiz com as praticadas por muitas escolas pelo Brasil inteiro.

  2. Valdeci disse:

    Antigamente faculdade Federal, se dizia que era para filho de papaizinho, que em sua maioria vinha de escola da rede privada. Hoje 50% dos estudante brasileiros, que passam ou já passaram por escolas públicas, tem as mesma condições de igualdade e todos estiveram ou estão lá pelos seus próprios méritos, o que significa dizer que o ensino público não esteja assim tão ruim o quanto se diz. Para dar uma melhorada naquilo em que já se avançou, não basta só o governo central investir, investir e investi. Tem que haver um comprometimento por parte dos gestores municipais, que recebem recursos federais e não se fiscaliza a sua real aplicação no seu devido lugar. Os pais e alunos, além do ensino, tem que participarem e cobrarem de seus gestores a responsabilidade pela melhor qualidade no ensino, o que na verdade não vem acontecendo na maiorias dos municípios. Por isto é necessário, é dever e direito dos pais, dos alunos e da sociedade estarem atento e de olho naquilo que já é nosso por lei e por direito e dever, e não ficarmos como bem disse Raul Seixas: Com a boca escancarada, cheia de dente esperando apenas, a morte chegar.

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